31.1.07

América Latina!

Carta Maior: Pomar analisa avanço da esquerda na América Latina
Leia abaixo entrevista com o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, publicada no site da Agência Carta Maior:


Entre 12 e 17 de janeiro, representantes dos partidos de esquerda de toda a América Latina se reuniram no XIII encontro do Foro de São Paulo, fórum criado em 1990 para articular as legendas progressistas da região. O encontro trouxe à tona a problemática dos desafios partidários frente ao ascenso eleitoral na América Latina, que em 2006 foi marcado por diversas vitórias como as de Rafael Corrêa no Equador, Evo Morales na Bolívia, Daniel Ortega na Nicarágua e as reeleições de Hugo Chávez na Venezuela e Lula no Brasil. Mas é possível afirmar que este movimento eleitoral significa o fortalecimento da esquerda partidária na região? Para Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT, maior partido de esquerda da América Latina, é importante reconhecer as condições favoráveis para as forças progressistas mas ainda não há uma definição clara sobre o movimento em curso e nem para onde ele seguirá. Ele defende que há uma inegável perda de espaço do neoliberalismo e da pressão dos EUA sobre a região mas as alternativas a este modelo ainda não conseguiram surgir como algo que traga traços comuns. Um dos motivos para isso é a diversidade tanto das organizações partidárias quanto da relação que as forças progressistas desenvolvem com os governos populares eleitos. O mosaico partidário latinoamericano tem experiências como a brasileira, onde o PT desempenha, apesar de todas as pressões, um papel importante de organização das forças sociais que sustentam o mandato de Lula. Mas também apresenta casos como o do Equador, onde Rafael Correa foi eleito pela Alianza País, sigla que obteve desempenho pífio nas eleições parlamentares daquele país, e da Venezuela, onde Hugo Chávez recentemente propôs a criação de um novo partido frente à debilidade do atual.

Carta Maior: Há uma série de vitórias de esquerda na América Latina. É possível dizer que há uma hegemonia de esquerda na região?
Valter Pomar: Acho que o continente está se inclinando para a esquerda, mas não acredito que já possamos falar em uma hegemonia de esquerda na região. Hegemonia, num sentido muito amplo, inclui as relações econômicas, sociais, políticas e ideológicas. Se o critério for a presença de partidos de esquerda em governos da região, ou ainda o desempenho eleitoral de partidos de esquerda, ou ainda a derrota eleitoral de partidos de orientação neoliberal, poderíamos dizer que está se formando uma hegemonia de esquerda. Mas se observarmos as ações desenvolvidas pelos governos integrados ou encabeçados por partidos de esquerda, a coisa fica mais complexa. E se considerarmos a força que o grande capital, em particular financeiro, bem como a força que os EUA seguem tendo no conjunto da América Latina e Caribenha, o que se reflete na desigualdade social aqui existente, a maior do mundo, então a resposta terá que ser muito matizada. Finalmente, se analisarmos com uma perspectiva histórica mais alargada o conteúdo programático das forças de esquerda existentes na região, veremos que estamos falando não de uma, mas sim de várias esquerdas. Por tudo isto, acho mais preciso dizer que o neoliberalismo está sofrendo derrotas ideológicas, eleitorais e políticas, que os Estados Unidos estão tendo que ceder espaços, que há um processo de recuperação da influência das esquerdas nacionalistas e socialistas. Ou, de maneira mais sintética, que a América Latina e Caribenha vive um momento de transição, que o neoliberalismo e a hegemonia norte-americana estão ficando para trás, mas que o futuro ainda é incerto, embora haja um visível crescimento das forças de esquerda e o socialismo tenha voltado a fazer parte do debate político continental.

CM: É possível dizer que o ascenso destes governos está fundado no fortalecimento dos partidos de esquerda na AL?
VP: Existem países, como o Brasil, o Uruguai e a Nicarágua, onde a eleição de presidentes de esquerda está diretamente vinculada à construção, por décadas, de forças político-partidárias, como é o caso do Partido dos Trabalhadores, da Frente Ampla e da Frente Sandinista. Caso não tivesse havido uma fraude, teria sido o caso também do México, com o Partido da Revolução Democrática. Mas existem países onde os partidos, inclusive os de esquerda, têm pouca relação com a eleição dos atuais presidentes. É o caso da Bolívia, do Equador e da Venezuela. O que me parece um traço comum, tanto num como noutro caso, é o esgotamento ideológico e político-eleitoral das forças vinculadas ao neoliberalismo. E o que me parece uma exigência comum, em todos os casos, é fortalecer a organização das classes trabalhadoras, em particular de seus partidos políticos. Processos revolucionários e grandes reformas sociais só terão sucesso se tiverem ou forem capazes de forjar lideranças coletivas.

CM: É possível identificar identidades entre algum grupo de países quanto ao processo que vivem seus respectivos partidos de esquerda?
VP: Existem duas chaves de leitura possíveis. A primeira é utilizada tanto pela ultra-esquerda, quanto pelo Departamento de Estado norte-americano. Segundo esta chave-de-leitura, haveria "duas esquerdas" na América Latina: uma reformista (ou responsável, no pensar gringo), outra revolucionária (ou populista/irresponsável, no dizer dos gringos). Esta chave de leitura, embora tenha elementos de verdade, omite duas questões fundamentais. A primeira é que ela se limita a observar o comportamento dos partidos, quando seria mais correto analisar o processo social em que eles estão inseridos. E, se fizermos isso, vamos descobrir que há na América Latina países em situação pré-revolucionária e outros não, o que nos leva a julgar de maneira distinta a ação dos partidos envolvidos em cada processo. A segunda questão omitida nesta chave de leitura é que, mesmo com profundas diferenças, o que está em curso na América Latina e Caribenha é um processo desigual mas combinado. Neste sentido, acho mais relevante adotar outra chave de leitura: qual a posição dos partidos (inclusive os de esquerda) frente ao imperialismo norte-americano.

CM: Como você vê a situação boliviana? Há um fortalecimento do MAS como principal base de apoio do governo Morales?
VP: Minha impressão é que a situação boliviana tem elementos revolucionários. São estes elementos revolucionários que explicam a imensa mobilização social ocorrida nos últimos anos, que desembocou na vitória de Evo Morales nas eleições de 2005. Mas aí começam as contradições. Evo foi eleito presidente da República, encabeçando um segmento do aparato de Estado. Dada a fraqueza relativa dos partidos políticos e também das organizações sociais mais tradicionais, ele é obrigado a se apoiar neste aparato de Estado, para fazer as profundas mudanças que a maioria da população boliviana. Ou seja, ele precisa se equilibrar entre duas estratégicas: uma, de viés revolucionário, baseada principalmente na mobilização social, onde a luta faz a lei; e outra, baseada no controle de um ramo do Estado, baseada no apelo à legalidade e às instituições. Implementar esta estratégia exigiria, entre outras coisas, um partido político muito organizado e preparado do que o MAS parece ser. Por outro lado, os grandes processos sociais forjam seus instrumentos com a matéria-prima disponível. Assim, nos cabe, mais do que analisar, ajudar.

CM: E o caso da Venezuela? Hugo Chávez coloca como um dos pontos centrais para o próximo período a construção de um partido unificado em sua base de apoio, mostrando uma debilidade no processo venezuelano. Como você vê isso?
VP: O processo venezuelano tem características muito próprias, entre as quais eu destacaria a desmoralização da oposição de direita e sua enorme dependência do apoio norte-americano; o apoio de um importante setor das forças armadas ao rumo proposto por Chavez; os recursos provenientes da renda petroleira; e a fraqueza relativa dos partidos de esquerda e de organizações "clássicas", como os sindicatos. Isso ajuda a entender a distância entre a radicalidade das mudanças propostas pelo governo, vis a vis a representatividade e capacidade dirigente das organizações políticas que o apóiam. Neste sentido, faz todo o sentido construir um partido que unifique estas organizações políticas. Este processo de unidade das forças revolucionárias ocorreu em Cuba. Espero que, como em Cuba, se consiga um processo real de unificação e não algo artificial.

CM: Ainda no caso da Venezuela, Chavez coloca um suposto estágio mais avançado de seu país rumo ao socialismo do século XXI. Você concorda com esta afirmação?
VP: É difícil julgar um processo político-social, levando em consideração apenas o que dizem seus dirigentes. Seja como for, se as palavras têm algum sentido, socialismo é uma fase de transição entre o capitalismo e o comunismo. Isto supõe, portanto, a socialização da propriedade e do poder. Me parece óbvio que fazer isto é um desejo do governo Chavez. A pergunta é: as mudanças efetivamente ocorridas já nos permitem falar em socialismo, ou seja e por exemplo, em hegemonia da propriedade social sobre a propriedade privada, do público sobre o mercado, do poder popular sobre o Estado burguês? Ou o que temos é capitalismo de Estado e um governo popular? Chavez tem ajudado a colocar o socialismo de volta ao debate político continental. Mas é preciso cuidado para evitar que nossos desejos e necessidades, que exigem pressa, turvem nossa capacidade de análise.

CM: Por outro lado, há uma tensão entre partidos e movimentos sociais. Você concorda que os partidos de esquerda vivem hoje uma crise de representação? uma crise que tem uma de suas expressões no crescimento, entre movimentos sociais, de uma rejeição da forma tradicional de organização partidária?
VP: A questão é muito mais complicada. O enfraquecimento relativo da classe trabalhadora, em todo o mundo e não apenas em nosso continente, produziu um enfraquecimento das suas organizações clássicas, os sindicatos e os partidos. Não são apenas os partidos que enfrentam, em vários países, problemas de representatividade. Os movimentos sociais, em vários casos, também sofrem do mesmo mal. Ao lado disso, há uma campanha desenvolvida pelos grandes meios de comunicação, contra a política e contra os partidos políticos. Esta campanha encaixava-se com o discurso do "fim da história". Se nada havia para mudar, os governos deveriam ser entregues para "gerentes", não haveria diferença de projetos entre os partidos, que na verdade seriam máquinas de promoção de interesses pessoais, corporativos ou simplesmente excusos. E, finalmente, há divergências políticas sobre como combinar, num período não-revolucionário, em que a luta eleitoral e o exercício de governos constituem instrumentos fundamentais para a esquerda, a mobilização social e a ação dos partidos políticos. Minha leitura é que, mais do que uma tensão entre movimentos e partidos, há uma tensão entre militantes políticos que atuam em partidos, movimentos, parlamentos e governos, sobre qual deve ser a estratégia de poder da esquerda e sobre qual é o papel de cada forma de luta.

CM: A partir desta análise, quais são os principais desafios para os partidos de esquerda na América Latina?
VP: De forma bem resumida, ampliar nossa presença nos governos da região; implementar programas democrático-populares, que implementem reformas estruturais; fortalecer as classes trabalhadoras, econômica, social, política e ideológicamente; lutar pela integração continental; e combinar ações, para que a diversidade de estratégias e de situações não nos enfraqueça frente aos inimigos comuns: o imperialismo norte-americano, o neoliberalismo e o capitalismo. Para a esquerda socialista, que é uma parte da esquerda latino-americana, trata-se de aproveitar este momento tão favorável para fazer do socialismo uma alternativa real.

CM: Qual é a estratégia do PT para este processo? Qual papel o partido deve cumprir no próximo período junto às outras siglas de esquerda da região?
VP: O aspecto central da estratégia do PT é trabalhar pela integração continental, com o seguinte acento: que seja uma integração não apenas econômica e de infra-estruturas, mas também política e cultural; que seja uma integração não apenas entre governos, mas também entre povos. E que seja uma integração, não uma subordinação de uns a outros. Por isso o PT não aceita participar de competições para definir quem lidera o processo. Nem aceita, como é óbvio, ser liderado.
www.pt.org.br

São Leopoldo - Fazendo a Nova Cidade!

Vanazzi vistoria obras de infra-estrutura na Zona Norte

Vanessa Souza

Obra na Atalíbio Taurino de Resende foi escolhida pela comunidade no OP

No dia 30 de janeiro, integrantes da Administração Popular fizeram vistoria em duas obras de infra-estrutura referentes à macrodrenagem e à pavimentação asfáltica, nos bairros Scharlau e Santos Dumont. O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, e o diretor de Obras Estruturais da Secretaria Municipal de Obras Viárias e Serviços Urbanos (Semov), Paulo Roberto Kumer, conferiram o andamento das obras. Realizada pela Construtora Giovanella, a obra de macrodrenagem da avenida Atalíbio Taurino de Resende foi uma reivindicação da comunidade através do Orçamento Participativo de 2005.

Investimento em macrodrenagem
Segundo Vanazzi, o investimento na macrodrenagem corresponde a R$ 1,9 milhão e conta com recurso financeiro do Governo Federal. “A obra garantirá melhorias em saneamento básico na região que envolve toda a Scharlau, amenizando problemas enfrentados pela comunidade”, ressaltou o prefeito. O período de conclusão dos trabalhos está previsto para o início de março. A obra consiste na construção de um canal aberto de seção 3m x 1,5m e extensão de 706 metros.

Melhorias
Os moradores do entorno, Adriano Damásio e Jandira Leher de Bairros, já perceberam algumas melhorias que a obra está proporcionando, mesmo antes da conclusão. “Eu gostei muito que a prefeitura tenha iniciado esta obra. Há 32 anos moro aqui e terminou com o mau cheiro”, destacou Jandira. “Além do odor da água parada, reduziu a quantidade de mosquitos”, ressaltou Damásio, que mora no local há 25 anos. Jandira também chamou a atenção dos moradores. “É importante que todos ajudem a cuidar do local, pois é um bem para nós mesmos”, afirmou a moradora.

São Leopoldo - Fazendo a Nova Cidade!

Prefeito e ministro entregam 224 apartamentos do PAR da Campina










Residencial beneficia 224 famílias

Aproximadamente 400 pessoas acompanharam o sorteio dos 224 apartamentos do Programa de Arrendamento Residencial (PAR) da Campina, no dia 29 de janeiro.A cerimônia de inauguração contou com a presença do ministro das Cidades, Márcio Fortes; do prefeito, Ary Vanazzi e da secretária municipal de Habitação (Semhab), Helena Kieling.
Também estavam presentes o superintendente da Caixa Econômica Federal (CEF), Plínio Graef; representantes da Baliza Empreendimentos Imobiliários Ltda. e demais autoridades.
Residencial Aimoré
O PAR é uma iniciativa do Governo Federal, por intermédio da Caixa Econômica Federal, em parceria com a Prefeitura Municipal de São Leopoldo. Trata-se de um programa destinado para famílias de baixa renda que recebem de 3 a 4 salários mínimos, com financiamento para a quitação do imóvel, no prazo de 15 anos. O investimento é de R$ 6,7 milhões.São sete blocos, com 32 apartamentos (oito em cada um dos quatro andares). Nos critérios de seleção, a CEF priorizou as famílias com menor renda e maior número de familiares, dando preferência aos portadores de deficiência e mulheres chefe de família.
Novos vizinhos
Os contemplados foram recepcionados pela presidente da Associação de Moradores do Rio dos Sinos, Maria Conceição Nunes. “Nossa associação está aberta aos futuros moradores do Residencial Aimoré. Estamos felizes pelo crescimento do bairro Campina, que também conta com uma praça de lazer para a comunidade, construída por iniciativa da Administração Popular”, comemorou.
Casa própriaO casal Roseli Pires Padilha e Maurício Victorino da Silva foram os primeiros a receber a chave do imóvel das mãos do ministro Márcio Fortes e do prefeito Vanazzi.“Agradeço a Deus, à Administração Popular e ao Governo Federal por ter conseguido a minha casa própria. Eu e meu marido morávamos há mais de 20 anos de aluguel e agora temos o nosso imóvel. Sem pagar aluguel, poderemos voltar a estudar”, falou emocionada a proprietária, Roseli.
Parceria
Segundo o superintendente regional da CEF, Plínio Graef, o PAR é um dos projetos que tem proporcionado o acesso à moradia para as famílias de baixa renda.“Através do PAR da Campina, beneficiamos 224 famílias com a casa própria, oferecendo condições facilitadas de financiamento. A parceria com a Prefeitura de São Leopoldo é o caminho para continuarmos atendendo a demanda habitacional”, destacou Graef.
Investimentos
A titular da Semhab, Helena Kieling, reafirmou o compromisso da secretaria em garantir moradia digna para a população. Segundo ela, foram investidos R$ 26 milhões em habitação desde o início da gestão atual. Através de parcerias com o Governo Federal, foram viabilizadas cerca de 2000 casas populares no município, sendo que 871 estão concluídas e as demais, em fase de execução.
Desenvolvimento
O prefeito Ary Vanazzi salientou que o Residencial Aimoré permitirá que muitas famílias parem de pagar aluguel. Conforme o prefeito, o novo residencial vai contribuir para o desenvolvimento econômico da região que, há muito tempo, não contava com um empreendimento popular.Mais 448 apartamentos no Rio dos Sinos As obras dos 448 apartamentos do PAR do Rio dos Sinos estão em andamento. O Residencial Rio dos Sinos I beneficia 272 famílias, com investimento de R$ 8,15 milhões. Já o Residencial Rio dos Sinos II, com recursos de R$ 5,27 milhões, contempla 176 famílias.
Os dois empreendimentos populares devem beneficiar 448 famílias de baixa renda que recebem de 3 a 4 salários mínimos.
Os residenciais estão localizados na rua Projetada s/nº, quadra 240 A. A previsão de entrega do empreendimento é outubro de 2007.

19.1.07

Novo Jeito de Mentir aos Gaúchos

Até agora só deu ...
Novo Jeito de Mentir aos Gaúchos.
Iotti ZH 18 01 2007
Iotti ZH 11 01 2007
Iotti ZH 17 01 2007
Iotti ZH 04 01 2007
Iotti ZH 10 01 2007
Iotti ZH 06 01 2007
Sinovaldo Jornal NH 07 01 2007
Tacho Jornal NH 28 12 2006



Tacho Jornal NH 26 12 2006

Jeito Novo de Mentir aos Gaúchos

TUCANA PAULISTA inovando
Apertando os gaúchos!
Sinovaldo Jornal NH 19 01 2007
Mostrando como quer deixar o Rio Grande!

17.1.07

América Latina!

América Latina!
Socialismo mais presente.

Antes da posse oficial, novo presidente participa de cerimônia indígena, promete convocar nova Constituinte e defende o socialismo do século 21
15/01/2007
Elaine Tavares *de Florianópolis (SC)

Os povos originários do Equador foram os primeiros a dar posse ao seu novo presidente. Foi num pequeno povoado, Zumbahua, encravado no meio dos Andes, a mais de três mil metros acima do nível do mar. Tal qual Evo Morales, na Bolívia, Rafael Correa Delgado, o 56º mandatário do país, antes de apresentar-se ante o poder do estado burguês curvou-se à benção dos yachags, os sábios andinos, e recebeu a saudação das gentes autóctones que formam a maioria naquela região de Cotopaxi, onde por muito tempo, nos idos dos 800, viveu e ensinou Simón Rodríguez, o mestre de Bolívar.
O lugar foi o escolhido para este momento cerimonial porque foi ali que Rafael viveu durante um ano inteiro, atuando como professor, trabalhando junto às comunidades indígenas e aprendendo a língua originária, o kichua, no qual consegue se expressar muito bem. Na pequena praça, o povo cantou a canção que vem embalando as lutas na espinha dorsal andina: "Alerta, alerta, alerta que camina. La espada de Bolívar por América Latina".
Rafael chegou à festa como um deles, vestido com uma camisa bordada de motivos pré-colombianos, sem gravata e sem pompa. Vieram com ele os familiares e os amigos, também presidentes, Hugo Chávez e Evo Morales. Cerimônias ancestrais foram realizadas.
Um sábio o pegou pela mão e o conduziu, simbolizando a idéia do poder obediencial. O governo não é dele, Rafael, mas do povo, e é pelo povo que vai ser conduzido. Feitas todas as rezas e bendiciones, foi entregue o bastão de mando, o poncho e o cachecol branco. A cabeça do presidente foi ungida com a água do lugar, ainda sob o domínio das gentes. Logo em seguida da cerimônia ancestral foi a vez da missa católica, onde também foi abençoado pelos sacerdotes salesianos.

Novos rumos
Nos discursos que se seguiram, Evo Morales e Hugo Chávez lembraram a necessidade de avançar na luta pela defesa dos recursos naturais e de um novo modelo político para toda a América Latina. Rafael Correa garantiu que seu primeiro ato vai ser o de convocar a Constituinte, deixando claro que não vai ceder às chantagens dos deputados conservadores e tampouco pactuará com traidores.
O novo presidente lembrou Fidel, Cuba, e toda a luta pioneira travada na ilha caribenha. Dali vem o exemplo sobre como construir uma pátria justa e soberana. E, tal qual os companheiros presidentes presentes, afirmou que está chegando a hora de uma democracia digna e do socialismo do século XXI. "Um novo dia começa agora. Este vai ser um governo dos indígenas, dos migrantes e dos excluídos". Segundo Correa, não haverá pequenas reformas, mas sim mudanças estruturais necessárias e urgentes para o povo do Equador.
Com seu riso largo e suas roupas coloridas, Rafael Correa saudou o povo que lhe deu a outorga para comandar os destinos da nação. Carregou com ele para Quito o bastão sagrado que o lembrará, a cada dia, que ali estão depositadas muitas esperanças. E que a esperança de um povo como o do Equador, que tantas vezes já demonstrou seu espírito de luta e rebeldia, não é coisa pouca. É tão sagrada quanto o bastão.
Essa cerimônia, inédita na vida dos povos daquele país, marca deveras o início de um novo tempo. Em que se respeita o autóctone e sua cultura e em que se prioriza a vítima. Os excluídos do Equador - que é hoje um dos países que mais "exporta" migrantes - estão vigilantes. Se a vida mudar, vai ter valido a pena. Se nada acontecer, eles fazem o que sempre fizeram: rebelião!
* Com Informações da Altercom – Agencia de Prensa do Ecuador

Natureza


Maldição sobre nossa geração?
* Leonardo Boff

A questão ambiental deveria preocupar os Governos, em especial o nosso que propõe o crescimento como meta central. Se não previrmos os desequilíbrios, nossos filhos e netos amaldiçoarão nossa geração, que sabia das ameaças e não evitou a tragédia anunciada.
Há uma contradição que afeta todos os países do mundo e que, a persistir, pode nos levar a um generalizado desastre civilizatório. A contradição reside nisso: todos os países precisam anualmente crescer. Crescimento éfundamentalmente econômico que se expressa pelo Produto Interno Bruto(PIB). Esse crescimento cobra uma alta taxa de iniqüidade social (desemprego e compressão dos salários) e uma perversa devastação ambiental (exaustão dos ecossistemas).
Há bastante tempo que o equilíbrio entre crescimento e preservação doambiente foi quebrado em favor do crescimento. O consumo já supera em 25% a capacidade de reposição do planeta. Consoante o PNUD se quiséssemos universalizar o bem-estar dos países industrializados, precisaríamos dispôr de outros três planetas como a Terra, o que é absurdo. Sabemos hoje que a Terra é um sistema vivo auto-regulador no qual o físico,o químico, o biológico e o humano se entrelaçam (teoria de Gaia). Mas ela está falhando em sua auto-regulação. Daí as mudanças climáticas e o aquecimento global que nos atestam que estamos já profundamente dentro da crise.
A Terra poderá buscar um equilíbrio novo subindo sua temperatura entre 1,4 e 5,8 graus Celsius. Começaria então a era das grandes devastações com a subida do nível dos oceanos, afetando mais da metade da humanidade que vive em suas costas. Milhares de organismos vivem não teriam tempo suficiente para adaptar-se e morreriam. Grande parte da própria humanidade, em até 80% segundo uns, poderia apenas subsistir.
Com acerto afirmava Washington Novaes, um dos jornalistas que no Brasil melhor acompanha as questões ecológicas: "agora não se trata mais de cuidar do meio ambiente, mas de não ultrapassar os limites que poderão pôr em risco a vida". Muitos cientistas sustentam que nos acercamos já do ponto de não mais retorno. Podemos diminuir a velocidade do processo, mas não a sustar.
Essa questão deveria preocupar os Governos, em especial o nosso que propõe o crescimento como meta central. Em seu discurso, o presidente Lula não disse sequer uma palavra sobre a questão ambiental. Se não tomar em conta os dados acima, as taxas alcançadas poderão ser totalmente perdidas em duas ou três gerações. Nossos filhos e netos amaldiçoarão nossa geração, que sabia das ameaças e nada ou pouco fez para escapar da tragédia anunciada.
O erro de todos foi seguir ao pé da letra o conselho de Lord Keynes parasair da grande depressão dos anos trinta: "Durante pelo menos cem anosdevemos simular diante de nós mesmos e diante de cada um que o belo é sujo e o sujo é belo porque o sujo é útil e o belo não o é. A avareza, a usura, a desconfiança devem ser nossos "deuses", porque são eles que nos poderão guiar para fora do túnel da necessidade econômica rumo à claridade do dia. Depois virá o retorno a alguns dos princípios mais seguros e certos da religião e da virtude tradicional: que a avareza é um vício, que a exação da usura é um crime e que o amor ao dinheiro é detestável" (Economic Possibilities of our Grand-Children). Só que esse retorno não está acontecendo, antes se distanciou.
Porque escolhemos meios maus para fins bons chegamos ao ponto a quechegamos. Ou redefinimos fins mais altos do que simplesmente produzir econsumir ou então devemos aceitar um destino trágico. Remendos não sãoremédios.

* Leonardo Boff é teólogo e escritor.

TUCANOS na Semana

Os TUCANOS na semana

Bira A Charge On Line 16 01 2007

José Serra. Não sei de nada! Não é comigo!













Frank A Charge On Line 17 01 2007

Em cima do muro até a morte pelo poder.
















Nani JB On Line 16 01 2007

Tudo pelo PODER.











Bessinha A Caharge On Line 15 01 2007

Onde há poder, devo estar junto!

Tucanagem



Para a Tucanagem vale receber ajuda ESTATAL????
FHC PODE RECEBER $$ PÚBLICO????
Que tal algum tucano dar as EXPLICAÇÕES devidas!!!


Estatal doou R$ 500 mil a instituto de FHC
www.terramagazine.com.br
Quarta, 17 de janeiro de 2007, 08h00
Daniel Bramatti
O Instituto Fernando Henrique Cardoso, ONG criada pelo ex-presidente tucano com a ajuda de grandes empresários, foi contemplado no ano passado com uma doação de R$ 500 mil de uma empresa estatal do governo paulista, que no período 2003-2006 foi comandado por Geraldo Alckmin (PSDB) e Cláudio Lembo (PFL).
O dinheiro saiu da Sabesp - então presidida por outro tucano, Dalmo Nogueira Filho - e foi direcionado para um projeto de conservação e digitalização do acervo do instituto, conhecido pela sigla iFHC.A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) é uma das sete empresas que, até o final do ano passado, haviam doado R$ 2.095.000,00 para o projeto de preservação e digitalização do acervo do iFHC, com incentivos fiscais da chamada Lei Rouanet - as contribuições podem ser descontadas do Imposto de Renda.
O acervo é formado por livros, fotos e obras de arte de FHC e também de sua mulher, Ruth Cardoso. Reúne não apenas itens coletados durante a passagem do tucano pela Presidência, mas também da época em que era professor e um dos líderes da oposição ao regime militar. Entre os objetos em processo de catalogação estão os presentes que FHC recebeu durante seu governo - vasos, quadros, tapetes e até capacetes de pilotos de Fórmula 1.
O projeto de preservação e digitalização do acervo está orçado em mais de R$ 8 milhões - valor que equivale a cinco vezes o orçamento anual da Biblioteca Mário de Andrade, a maior de São Paulo, com mais de 3,2 milhões de itens.
O site do iFHC afirma que a digitalização dos documentos será feita com softwares e equipamentos cedidos pela IBM e pela Sun Microsystems do Brasil, mas não faz referência à Sabesp e aos outros patrocinadores, nem detalha como serão aplicados os R$ 2 milhões já recebidos. Segundo o instituto, os logotipos dos demais doadores serão associados ao projeto quando os recursos começarem a ser gastos.
O Instituto Fernando Henrique Cardoso é uma espécie de "organização ex-governamental" - reúne em seu conselho deliberativo diversas estrelas dos dois mandatos presidenciais tucanos, entre eles ex-ministros como Pedro Malan (Fazenda), Luiz Carlos Bresser-Pereira (Administração) e Celso Lafer (Relações Exteriores e Desenvolvimento).
A entidade tem como fonte de inspiração as fundações mantidas por ex-presidentes norte-americanos. Mas as semelhanças são limitadas. A ONG do ex-presidente Bill Clinton, por exemplo, atua na prática: apóia e implementa programas de combate à aids, de redução do custo de medicamentos e de controle do aquecimento global, entre outros. Também administra uma biblioteca pública no Estado de Arkansas que recebe cerca de 300 mil visitantes por ano.
Já o iFHC afirma ter dois objetivos básicos: o primeiro é a preservação do próprio acervo do ex-presidente e de sua mulher; o segundo é a promoção de debates e seminários - que são restritos a convidados. O site do instituto na internet destaca que "o iFHC, entidade privada, não está aberto à visitação pública".
O site também anuncia que parte do acervo será aberto ao público quando for concluído seu processo de catalogação e digitalização. Não há informações sobre a possibilidade de pesquisar os itens mais interessantes, do ponto de vista histórico e jornalístico: as gravações e anotações que o ex-presidente fez, durante seus oito anos de governo, sobre temas polêmicos como privatizações e reeleição.
O auxílio estatal ao instituto, via Sabesp, foge à regra: o iFHC nasceu e é mantido graças a contribuições privadas. Quando inaugurado, em 2004, tinha R$ 10 milhões em caixa. O tucano começou a pedir doações a empresários quando ainda era presidente.
Em um jantar no Palácio da Alvorada, em 2002, FHC expôs os planos de sua futura ONG a convidados como Emílio Odebrecht (grupo Odebrecht), Lázaro Brandão (Bradesco), Olavo Setubal (Itaú), Benjamin Steinbruch (CSN), Pedro Piva (Klabin) e David Feffer (Suzano). Na época, o colunista Elio Gaspari criticou o fato de a coleta de fundos ser feita entre representantes de empresas financiadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ou contempladas no processo de privatização.
Já as relações da Sabesp com políticos do PSDB não constituem propriamente uma novidade. No ano passado, reportagens da Folha de S.Paulo revelaram que a estatal patrocinou uma edição da revista Ch'an Tao, do acupunturista do então candidato à Presidência Geraldo Alckmin - o tucano foi assunto de capa e apareceu em 9 das 48 páginas da publicação.
A estatal também destinou R$ 1 milhão de sua verba publicitária para uma editora e um programa de TV do deputado estadual Wagner Salustiano (PSDB). O Ministério Público abriu uma investigação sobre o eventual uso de empresas do Estado para beneficiar aliados de Alckmin na Assembléia Legislativa.
Terra Magazine procurou ontem a Sabesp e FHC, em busca de esclarecimentos sobre a doação de R$ 500 mil. Não houve resposta da estatal. A assessoria do iFHC informou apenas que o ex-presidente não se encontrava no local.
Além da Sabesp, da Sun e da IBM, os outros patrocinadores do projeto de digitalização do iFHC são as empresas Philco Participações (R$ 600 mil), Arosuco Aromas e Sucos (do grupo Ambev, R$ 600 mil), Mineração Serra Grande (do grupo Anglo-American, R$ 200 mil), Norsa Refrigerantes (representante da Coca-Cola no Nordeste, R$ 140 mil), Rio Bravo Investimentos (R$ 30 mil) e BES Investimentos do Brasil (R$ 25 mil).
A Rio Bravo Investimentos foi fundada e é dirigida por Gustavo Franco, que presidiu o Banco Central nos anos FHC. O BES Investimentos faz parte do grupo português Espírito Santo, cujo representante no Brasil, Ricardo Espírito Santo, teve seu nome relacionado ao escândalo do mensalão por supostas relações com o publicitário Marcos Valério. Em 2005, o banqueiro foi acompanhado por Valério a uma reunião com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em 2002, Ricardo Espírito Santo também estava no jantar do Palácio da Alvorada em que FHC pediu contribuições para a criação de sua ONG.

Novo Jeito de Mentir aos Gaúchos

Uma entrevista para ser guardada para lembrar o JEITO NOVO DE MENTIR AOS GAÚCHOS.
Continua afirmando que mentiu, que é malvada e que não sabe como governar.



www.istoe.com.br


Yeda Crusius
“Fui malvada na eleição e serei dura no governo”
A governadora do Rio Grande do Sul prevê sacrifícios para os gaúchos recuperarem empregos industriaise produção agrícola
Por Hugo Studart e Rudolfo Lago
Anita Garibaldi era de Santa Catarina. Mas tornou-se uma das grandes heroínas do Rio Grande do Sul ao lutar, juntamente com seu marido, o italiano Giuseppe Garibaldi, na Revolução Farroupilha. Yeda Crusius, 63 anos, também não é gaúcha. Nasceu em São Paulo. E é em Anita Garibaldi que ela agora se inspira para tentar tirar o Rio Grande do Sul de uma das maiores crises de sua história. Primeira mulher a governar o Estado, famoso por seu machismo, Yeda diz que foi “malvada” na campanha, ao mostrar que os gaúchos só irão resgatar empregos industriais e relançar a produção agrícola por meio de cortes drásticos em despesas públicas. Agora, depois de ter um pacote de aumento de impostos rejeitado pelos deputados estaduais, Yeda afirma que terá de ser ainda mais dura do que imaginava. Ela está disposta a jogar pesado contra o governo federal para obter recursos que ajudem a tirar o Estado do atoleiro. “Lula foi eleito para governar para todos os brasileiros, e não apenas para os brasileiros petistas.” A ISTOÉ, na entrevista das páginas seguintes, a candidata a heroína Yeda Crusius mostrou que está afiada.
ISTOÉ – Em que condições a sra. recebeu o Rio Grande do Sul?
Yeda Crusius – Em crise financeira aguda. Quando fui eleita, o déficit era de 15% da receita líquida. Quando tomei posse, já era de 20%. Ora, nada menos que 18,5% da receita líquida vai todos os meses, automaticamente, para o governo federal, a fim de amortizar dívidas antigas. Nosso orçamento é de R$ 20 bilhões e nossa dívida ativa é de R$ 17 bilhões. Fechamos 2006 com R$ 9 bilhões de precatórios a pagar. Tenho de pagar, só que não consigo nem dinheiro para pagar salários e fornecedores. Em dezembro, caducou o prazo para a alíquota maior de ICMS. O déficit mensal era de R$ 1,7 bilhão; agora já é de R$ 2,4 bilhões. Vou precisar costurar um pacto interno para fechar o orçamento deste ano. Preciso congelar os recursos dos Três Poderes; não posso dar nenhum aumento novo e tenho de buscar mais dinheiro.

ISTOÉ – A sra. já sofreu uma derrota na Assembléia Legislativa, que recusouo seu pacote fiscal. Como isso vai ficar?
Yeda – Na verdade, não fui eu quem sofreu uma derrota, foi o povo do Rio Grande.Os deputados não compreenderam o que eu estava propondo. O que eu queriaera reservar parte da arrecadação para a criação de fundos estruturantes, de combate à pobreza, para financiar obras de habitação, saneamento e irrigação.Eles negaram em bloco a criação desses fundos. Vão me obrigar a ser ainda mais dura do que eu queria.

ISTOÉ – Como?
Yeda – Agora que não tenho mais esses fundos, terei de fazer um corte muito mais drástico. Vai ser mais duro e doloroso. Mas eu tenho certeza de que o eleitorado gaúcho apoiava as medidas que eu propus à Assembléia e vai entender os sacrifícios que teremos de fazer.

ISTOÉ – A sra. tem certeza disso?
Yeda – Venci as eleições por causa da forma transparente como apresentei os problemas econômicos do Estado. Coloquei a crise aguda que passamos e disse o que faria no governo para superar a crise. Adiantei todas as medidas que faria, um passo de cada vez. Fui uma malvada na campanha. Isso gerou um grau de confiança muito grande. A população entendeu porque sentia que as coisas estavam piorando. Minha proposta era parar de ficar reclamando do governo federal e assumir a responsabilidade, fazer com coragem o que poderíamos fazer. Por isso, virei a eleição. Estava em terceiro e ninguém apostava na minha vitória. Acabei com a maior diferença de votos das últimas cinco eleições.

ISTOÉ – A sra. expôs o problema, mas vai conseguir resolvê-lo?
Yeda – De fato, o déficit é grande demais. Então, o que vai acontecer no decorrer do ano eu não sei. O que eu sei dizer é que nós vamos fazer os cortes que havíamos proposto e buscar recuperar o crédito junto ao Tesouro nacional. Esse crédito está rompido. O governo do Estado paga a dívida em dia, mas estourou todas as metas fiscais do contrato de dívidas. Então, nós perdemos o crédito com o Tesouro. Em decorrência, não temos também crédito com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nem com os bancos de fomento internacionais. Recuperar o crédito é fundamental. Agora, temos de fazer também a nossa parte. E, nesse sentido, eu proponho um conjunto de 12 medidas, com três eixos: crise fiscal, melhoria da gestão e retomada do crescimento. O Mário Covas (ex-governador de São Paulo) e o Aécio Neves (governador de Minas Gerais) deram a isso o nome de “choque de gestão”: fazer mais com o mesmo.

ISTOÉ – Pelo menos 17 governadores assumiram com seus Estados quebrados. O que está acontecendo com as economias estaduais?
Yeda – É um problema estrutural. Em primeiro lugar, temos os Estados como o Rio Grande, que dependem do agronegócio. Eles foram penalizadíssimos. Somos um Estado exportador e o câmbio foi para o chão. Isso provoca uma onda enorme de desemprego em setores como os de móveis, calçados e vestuário. É cruel e triste. E a política agrícola do governo foi inexistente. Então, houve uma quebra generalizada do setor agrícola e do agronegócio. Foi um desastre para esses Estados o que aconteceu nesse setor. Aqui, indústrias de máquinas e implementos agrícolas fecharam. Não estavam vendendo nenhuma unidade. Não há renda agrícola para compra desse maquinário. Soma-se a isso, para todos, a concentração da receita no governo federal na forma de impostos e contribuição, de forma gigantesca. É por isso que os Estados pedem compensações. Temos a penalização do ICMS sobre as exportações. A Lei Kandir veio para compensar os exportadores, mas o governo Lula jamais ressarciu o que deve aos Estados. O acumulado retido já chega a R$ 8 bilhões, R$ 1 bilhão só para nós. O governo prometeu amenizar a situação repassando R$ 3 bilhões, mas disse que só faria depois das eleições. As eleições acabaram. Estamos esperando.

ISTOÉ – A idéia é pedir uma renegociação das dívidas?
Yeda – É preciso haver uma relação mais equânime. Por exemplo, o Orçamento da União. Os Estados perderam muito com a opção política do governo federal. Porque houve uma inversão do que vinha de investimentos para os Estados. Os Estados deixaram de receber investimentos federais porque a opção foi Bolsa Família. Eu acho que essa reversão o próprio governo federal está buscando mudar agora, nesse discurso do presidente Lula de que quer “destravar” os canais de investimento público. Espero que ele faça isso mesmo. Os investimentos federais no Rio Grande do Sul beiram a zero.

ISTOÉ – A sra. prega uma união dos governadores para uma discussão embloco desses problemas?
Yeda – Sem dúvida. Isso tem de evoluir e muito bem. Eu continuo defendendo extraordinariamente a questão da lei de responsabilidade fiscal. Agora, cumprir a lei de responsabilidade fiscal, num quadro federativo, que não compensa os Estados pela sua seriedade, é difícil. Eu não quero mudar a lei. Mas quero, sim, condições para cumpri-la.

ISTOÉ – Os governadores falam em compensações da Lei Kandir e em novo pacto federativo. Por que agora pode haver um resultado concreto?
Yeda – Os últimos quatro anos foram muitoruins para a política. A relação com os partidos,com os governadores se deteriorou. Tudo nabase do mensalão. Foram quatro anos terríveis.Viveu-se em clima constante de denúncia. E erauma depois da outra. Gravíssimas. Isso enfraqueceu a relação institucional de uma maneira impressionante. O que é o Congresso hoje no olhar do cidadão? É uma pena.

ISTOÉ – E isso vai mudar?
Yeda – Eu estou apenas olhando, por enquanto. O próprio presidente diz que vai ser diferente. Espero que seja mesmo diferente. Acredito que será.

ISTOÉ – Os governadores, com essa situação fiscal, não vão acabar na mão do presidente Lula? De mãos atadas para fazer oposição?
Yeda – Nossa obrigação no PSDB é de ser oposição. Mas oposição parlamentar. Acabou a campanha eleitoral e Lula virou presidente de todos os brasileiros. Agora chegou a hora de a governadora do Rio Grande chamar à responsabilidade o presidente reeleito. Não vamos aderir ao governo federal. O governo federal tem de fazer a parte dele. O Porto do Rio Grande, em quatro anos, não recebeu um pila (real). Como fazer dragagem sem dinheiro?

ISTOÉ – Mas os governadores estão ou não na mão do presidente?
Yeda – Estar, não estão. Agora, se ele quiser, pode nos fazer muito mal. Mas euacho que ele não está querendo.

ISTOÉ – Mas o presidente Lula não pode buscar neutralizar a oposição pressionando os governadores para que eles, por sua vez, pressionem os seus deputados?
Yeda – Ele já fez isso nos quatro anos do primeiro mandato. Foi um dos elementos de quebra da qualidade política. Porque ela não foi feita comouma ação transparente. O presidente não propôsaos governadores um pacto no qual eles retribuiriam com o apoio das suas bases no Congresso. Não foi feito assim. Foi feito de uma forma difusa, pouco clara. Mas é parte nata da mulher saber que tudo na vida se faz em ciclos. No caso do governo, esse ciclo está terminando.

ISTOÉ – Como a sra. avalia a maneira como os governadores trabalharam com Lula nos últimos quatro anos?
Yeda – O modo de governar nesses últimos quatro anos foi tão radicalmente diferente do nosso modo durante os oito anos do governo FHC que isso nos baratinou. O modo como eles tiraram as bandeiras da nossa mão sem que conseguíssemos reagir. Foi difícil para nós. Há ainda todo esse encanto do presidente, nem digo do partido dele ou do governo dele. Mas com o encanto que ele exerce quando discursa era muito difícil para a gente ocupar espaço.

ISTOÉ – O presidente foi mais competente politicamente que a oposição.
Yeda – Olha o que ele tem na mão. Primeiro ele é presidente da República; segundo tem uma capacidade imensa de discurso. Ninguém está no lugar que ele está sem ter qualidades imensas para isso.

ISTOÉ – Qual a lição para a oposição?
Yeda – Temos de formular alternativas políticas e econômicas de uma maneira estruturada, comunicativa, indo até onde o povo está. Há milhares de municípios na mão da oposição. Dou um exemplo do Rio Grande do Sul. Dos 100 municípios que ganharam o prêmio de responsabilidade fiscal no ano passado, 49 estão aqui. A gente tem de mostrar à população que nós somos os autores dessas coisas.

ISTOÉ – Como será governar um Estado machista?
Yeda – O gaúcho não é machista, só fala grosso. Mas as mulheres daqui também falam grosso. É um Estado que forjou personagens como Anita Garibaldi e Ana Terra (personagem de ficção, do romance O tempo e o vento, de Érico Verissimo). O machismo do gaúcho não se manifesta pela depreciação da mulher, pelo contrário. Fui votada pelos homens, que diziam: “Aqui, votamos em mulher.”


"Um Estado que forjou mulheres como Anita Garibaldi não é machista. As mulheres daqui também sabem falar grosso"