2.8.10

O Gre-Nal de Dilma e Lula

O Internacional tem a vantagem de jogar em casa. Tem também a coincidência das cores: a camisa é vermelha, e vem daí o apelido carinhoso de “colorado”, como vermelhas são também as bandeiras do PT, do PCdoB, do PSB. Mas a torcida do Grêmio – que, anuncia o hino, até a pé vai com o Grêmio onde o Grêmio estiver – também lota as arquibancadas. E é assim que o Gigantinho, ginásio de esportes do Inter, com capacidade para 15 mil pessoas, fica pequeno para as duas torcidas eternamente rivais, mas que desta vez estão unidas num só grito de guerra: “1, 2, 3/ 4, 5, mil! É Tarso no Rio Grande e a Dilma no Brasil”.
A responsável pela missão quase impossível de unir as duas torcidas – e isso a menos de três dias de um Gre-Nal, um dos maiores clássicos do futebol brasileiro! – tem os olhos fixos nas arquibancadas. Dilma veste um blazer vermelho, mas fala ao coração de todas as torcidas, de todas as cores.
Primeiro, ela agradece ao Rio Grande e aos riograndenses, que acolheram aquela jovem mineira como se acolhe uma filha, logo que ela saiu da prisão da ditadura. Depois, Dilma olha nos olhos de cada homem e de cada mulher e avisa, reforçando a última sílaba:
Vou ser a primeira presiden-TA deste país!”.
As duas torcidas que agora formam uma só vibram como se fosse possível comemorar, ao mesmo tempo, um gol do Grêmio e outro do Inter, num Gre-Nal decisivo. Se nesta noite estivesse a serviço, o árbitro gaúcho Carlos Eugenio Simon, do alto do palanque, registraria na súmula imaginária o tento concreto: “Gol do Brasil, gol dos brasileiros e das brasileiras”.
Vibra o metalúrgico Zenildo Moreira da Silva, vibra sua companheira de ataque, a cozinheira Raquel do Rosário, ambos com a camisa vermelha do Inter, ele com a 10 do craque D´Alessandro, ela com a 9 do matador Alecssandro.
“Dilma vai dar continuidade a tudo o que o Lula fez. As mulheres têm toda a capacidade de governar o Brasil, e além disso a Dilma não vai governar sozinha, assim como Lula não governou sozinho: ela vai governar com a gente, com cada um de nós”, vibra Zenildo, que viu a oferta de empregos com carteira assinada explodir durante o governo Lula.
“Chegou a vez das mulheres. E se Lula fez o governo que fez, imagina o que não fará uma mulher, que tem a capacidade de olhar nos olhos do filho e saber se ele está doente, se ele está feliz”, emenda Raquel, que viu o salário mínimo subir como nunca antes na história deste país e agora planeja investir num carrinho de algodão doce, porque o povo agora tem dinheiro para adoçar a vida.
E ali, bem ao lado da dupla colorada, vibra um jovem de 16 anos que acaba de tirar o título de eleitor para votar na Dilma. “Abusado”, como brincam os torcedores do Inter, Gilmar da Silva Jr. veste a camisa do Grêmio, em pleno território outrora inimigo. Gilmar não veio a pé com o Grêmio: fretou um ônibus com amigos gremistas e colorados e veio de São José do Herval engrossar a torcida da Dilma.
“Se Lula melhorou a minha vida? Fez mais do que isso: melhorou a vida da minha cidade, que antes tinha muita pobreza, mas agora os pequenos agricultores têm recursos e apoio para produzir. E eu tenho certeza que a Dilma vai continuar o que Lula começou”, comemora o gremista Gilmar.
E quando acaba o comício, vão embora felizes gremistas e colorados, e saem do Gigantinho e passam em frente ao Beira-Rio, o lendário estádio do Inter. E até os gremistas sorriem ao ler a frase escrita na fachada do campo de batalha dos adversários colorados, estes provocadores que se auto-intitulam “Campeões de Tudo”. A frase – que traduz a esperança de gremistas e colorados, nesse momento em que Lula passa a bola para Dilma – diz o seguinte:
Queremos tudo de novo.

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