27.9.07

PSDB suando frio

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Bessinha A Charge On Line 27/09/2007

Quando o feitiço vira contra o feiticeiro

Valter Pomar
Em 1998, a campanha do PSDB ao governo de Minas Gerais foi beneficiária de um esquema ilegal de financiamento. Um dos operadores do esquema era o publicitário Marcos Valério. Entre os beneficiários diretos estava o então candidato a governador, depois presidente nacional do PSDB e hoje senador Eduardo Azeredo. Outro beneficiário direto foi o então candidato a deputado, hoje governador mineiro Aécio Neves. Um terceiro beneficiário, segundo palavras do insuspeito Azeredo, foi o candidato à reeleição Fernando Henrique Cardoso. Há outros beneficiários de fina plumagem.
Anos depois, o publicitário Marcos Valério foi apresentado a petistas, que tiveram a péssima idéia de adotar seu modus operandi, com as conseqüências políticas e judiciais conhecidas.

A oposição, bem como os meios de comunicação controlados pela direita, enxergou nesta história uma oportunidade imperdível de atacar o governo Lula e o Partido dos Trabalhadores. Mas para isto teve que transformar um caso clássico de “caixa dois” no “maior escândalo de corrupção da história brasileira” e numa tentativa de “subverter a institucionalidade democrática”.

Para sintetizar estes dois crimes foi cunhada a expressão “mensalão”, inventada pelo então deputado Roberto Jefferson e repetida todo santo dia, nos jornais, rádios, televisões e sítios eletrônicos.

Durante o ano de 2005, no auge dos ataques contra o PT, começou a vir à tona o ocorrido em 1998. Dois anos depois, logo após o julgamento em que o STF aceitou a denúncia contra importantes lideranças petistas, aproxima-se a hora da verdade do inquérito envolvendo os tucanos.

O que diz a “imprensa livre” e a intelectualidade tucana sobre isto?

Uma parte adota abertamente dois pesos e duas medidas. Quando envolve o lado de cá, chama de “mensalão petista”. Quando envolve o lado de lá, apelida de “mensalão mineiro”.

Mas para que esta versão regionalista tenha alguma credibilidade, será preciso subestimar a inteligência do distinto público, até porque o senador Azeredo cuidou de destacar o envolvimento de Fernando Henrique, Aécio e de outros tucanos na história.

Outra parte da “imprensa livre” fala do “tucanoduto”, mas opta por lançar mais luz sobre os envolvidos que mantêm laços com o PT ou com o governo Lula, chegando até mesmo a inverter a seqüência lógica dos fatos, como faz o editorial da Folha de S. Paulo no dia 27 de setembro: “no caso do tucanoduto, repetem-se ingredientes e personagens da farsa representada à exaustão pelos mensaleiros do PT”. Vamos combinar: que se investigue, julgue e condene quem de direito. Mas não sejamos injustos: aos tucanos, a primazia.

Esta não é a opinião, é claro, de xiitas como Augusto de Franco. De coordenador-geral do 1º Congresso do PT, este senhor virou tucano, da ala que odeia o PT acima de todas as coisas. Convertido em “analista político”, volta e meia Augusto de Franco tem suas opiniões divulgadas em espaço nobre pela Folha. No dia 27 de setembro, por exemplo, ali saiu um artigo de sua lavra, intitulado: “A farsa do mensalão mineiro”.

Segundo Augusto de Franco, a tal farsa estaria, em primeiro lugar, em “querer dizer que todo mundo faz igual” e, em segundo lugar, em “querer dizer que o PSDB age igual ao PT, tentando confundir caixa dois com caixa três”. Ou seja: crime cometido por tucano não é crime, é infração. E infração cometida por petista não é infração, é crime.
Augusto de Franco afirma, ainda, que “não houve mensalão em Minas, pois não houve compra de parlamentares e partidos para votar com o governo. O que houve em Minas, ao que tudo indica, foi um embrião do chamado valerioduto, voltado para abastecer caixa dois”.
É gozado: o “analista político” não tem certeza se Marcos Valério foi uma criação tucana, mas está seguro de que houve compra de parlamentares e partidos. E, baseado nesta crença, acusa o PT de comprar “apoio político para montar um Estado paralelo no país a partir da ocupação organizada da administração federal, das estatais e paraestatais e dos fundos de pensão, com o objetivo precípuo de falsificar a rotatividade democrática, retendo o poder nas mãos de um mesmo grupo privado pelo maior tempo possível. Essa é a origem e a razão do mensalão, quer dizer, do caixa três, não do caixa dois”.

Lula venceu as eleições, em 2002 e 2006. E, como presidente da República, tem legitimidade para nomear seus auxiliares, em todos os níveis da administração federal. Confundir isto com a montagem de um “Estado paralelo” é, isto sim, falsificar a “rotatividade (sic) democrática” para tentar manter o poder nas mãos do grupo que governou o país, de 1993 até 2002.
Grupo que, nos dois mandatos de FHC, colocou a administração direta e indireta a serviço da banca e da privataria. E que viabilizou a aprovação da reeleição, lançando mão dos métodos que fizeram a fama do falecido Sérgio Mota. O PT pode ter feito muita coisa, mas “ocupação organizada” da administração, isto com certeza não fizemos, como sabem os tucanos, pefelistas, ex-ministros de FHC e assemelhados que ocupam cargos de confiança no governo federal.

Aliás, tudo que aconteceu de 2005 até hoje só confirma que o PSDB e certos “aliados” fazem muito mal para a saúde do PT. Assim, quando mais distância mantivermos deles, melhor para o Partido, para o governo e para o povo brasileiro.

Quanto ao “mensalão tucano”, ele só confirma o que já foi dito em 2005: é preciso cortar pela raiz a promiscuidade entre política e negócios. Por isto defendemos o financiamento público das campanhas eleitorais. O PSDB foi contra a reforma política. Isto diz tudo sobre qual partido merece o título de “mensaleiro”.
Valter Pomar secretário de Relações Internacionais do PT

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