17.1.07

América Latina!

América Latina!
Socialismo mais presente.

Antes da posse oficial, novo presidente participa de cerimônia indígena, promete convocar nova Constituinte e defende o socialismo do século 21
15/01/2007
Elaine Tavares *de Florianópolis (SC)

Os povos originários do Equador foram os primeiros a dar posse ao seu novo presidente. Foi num pequeno povoado, Zumbahua, encravado no meio dos Andes, a mais de três mil metros acima do nível do mar. Tal qual Evo Morales, na Bolívia, Rafael Correa Delgado, o 56º mandatário do país, antes de apresentar-se ante o poder do estado burguês curvou-se à benção dos yachags, os sábios andinos, e recebeu a saudação das gentes autóctones que formam a maioria naquela região de Cotopaxi, onde por muito tempo, nos idos dos 800, viveu e ensinou Simón Rodríguez, o mestre de Bolívar.
O lugar foi o escolhido para este momento cerimonial porque foi ali que Rafael viveu durante um ano inteiro, atuando como professor, trabalhando junto às comunidades indígenas e aprendendo a língua originária, o kichua, no qual consegue se expressar muito bem. Na pequena praça, o povo cantou a canção que vem embalando as lutas na espinha dorsal andina: "Alerta, alerta, alerta que camina. La espada de Bolívar por América Latina".
Rafael chegou à festa como um deles, vestido com uma camisa bordada de motivos pré-colombianos, sem gravata e sem pompa. Vieram com ele os familiares e os amigos, também presidentes, Hugo Chávez e Evo Morales. Cerimônias ancestrais foram realizadas.
Um sábio o pegou pela mão e o conduziu, simbolizando a idéia do poder obediencial. O governo não é dele, Rafael, mas do povo, e é pelo povo que vai ser conduzido. Feitas todas as rezas e bendiciones, foi entregue o bastão de mando, o poncho e o cachecol branco. A cabeça do presidente foi ungida com a água do lugar, ainda sob o domínio das gentes. Logo em seguida da cerimônia ancestral foi a vez da missa católica, onde também foi abençoado pelos sacerdotes salesianos.

Novos rumos
Nos discursos que se seguiram, Evo Morales e Hugo Chávez lembraram a necessidade de avançar na luta pela defesa dos recursos naturais e de um novo modelo político para toda a América Latina. Rafael Correa garantiu que seu primeiro ato vai ser o de convocar a Constituinte, deixando claro que não vai ceder às chantagens dos deputados conservadores e tampouco pactuará com traidores.
O novo presidente lembrou Fidel, Cuba, e toda a luta pioneira travada na ilha caribenha. Dali vem o exemplo sobre como construir uma pátria justa e soberana. E, tal qual os companheiros presidentes presentes, afirmou que está chegando a hora de uma democracia digna e do socialismo do século XXI. "Um novo dia começa agora. Este vai ser um governo dos indígenas, dos migrantes e dos excluídos". Segundo Correa, não haverá pequenas reformas, mas sim mudanças estruturais necessárias e urgentes para o povo do Equador.
Com seu riso largo e suas roupas coloridas, Rafael Correa saudou o povo que lhe deu a outorga para comandar os destinos da nação. Carregou com ele para Quito o bastão sagrado que o lembrará, a cada dia, que ali estão depositadas muitas esperanças. E que a esperança de um povo como o do Equador, que tantas vezes já demonstrou seu espírito de luta e rebeldia, não é coisa pouca. É tão sagrada quanto o bastão.
Essa cerimônia, inédita na vida dos povos daquele país, marca deveras o início de um novo tempo. Em que se respeita o autóctone e sua cultura e em que se prioriza a vítima. Os excluídos do Equador - que é hoje um dos países que mais "exporta" migrantes - estão vigilantes. Se a vida mudar, vai ter valido a pena. Se nada acontecer, eles fazem o que sempre fizeram: rebelião!
* Com Informações da Altercom – Agencia de Prensa do Ecuador

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