Bateu o Pavor!
Juremir Machado da Silva, colunista do jornal Correio do Povo.
É importante ser claro, falar a linguagem das ruas e dar nome aos bois. A verdade é uma só: está batendo o pavor na direita brasileira. Dá para ouvir os dentes rangendo. Por um lado, Luiz Inácio brilha mais do que nunca no cenário internacional. O doutor FHC nunca teve tamanho prestígio no exterior. Independentemente do resultado do papo com Ahmadinejad no Irã, o mundo inteiro ficou esperando que o iletrado brasileiro resolvesse a parada. Os norte-americanos, mais caras de pau do que nunca, andam furiosos com o Brasil. Descobriram até os direitos humanos. Cobram de Luiz Inácio o fato de ele ficar negociando com um país que dá chibatadas nos seus opositores. É o roto falando do descosido. Os Estados Unidos são especialistas em amizades com ditadores. A China, por exemplo, nada deve ao Irã em repressão.
O ranger de dentes tem razões de todo tipo. A inveja em relação a Luiz Inácio não para de crescer. Todas as previsões dos conservadores foram por água abaixo. O Brasil vai bem, superou a crise como se ela não passasse mesmo de uma marolinha, a popularidade do presidente é estratosférica, a vida da população mais pobre melhorou bastante e, na política internacional, nunca mostramos tanta autonomia. Passamos de coadjuvante a protagonista. Para completar o quadro de pavor da direita, que não sabe mais o que fazer ou dizer, a última pesquisa do Vox Populi mostra Dilma na frente de José Serra, 38% a 35%. E agora? Dilma, a guerrilheira, a sem carisma, a criatura, começou a decolar e já parece muito palatável para eleitores que antes a viam com alguma desconfiança.
Se os dentes continuarem a bater assim, dá para ouvir o barulho enquanto escrevo, os dentistas é que vão faturar. Muita gente vai precisar de dentadura ou de aparelho. Passei, outro dia, por um luminar da direita e ele parecia desesperado. Estava branco, verde, azulado. Nem me aproximei. O homem falava sozinho, resmungava, vociferava e espumava de raiva. Dava para entender o nome Dilma no seu discurso enrolado. Tem gente que não dorme mais. Alguns buscam soluções mágicas. Outros, tentando permanecer racionais, buscam culpados. Não encontram. Perguntas es-drúxulas se repetem: por que Luiz Inácio não fez como Evo Morales e Hugo Chávez? Aí está: Luiz Inácio não traiu só a esquerda, traiu a direita também. Frustrou-a terrivelmente ao não se comportar como um ditador ou como um "perfeito idiota latino-americano".
O que dói mais na direita é ver Luiz Inácio trocando abraços, afagos, sorrisos e ideais com os grandes deste mundo. Dói mais ainda ver Luiz Inácio, com seu traquejo social sem berço nem formação, colocando todos à vontade, fazendo até um russo gelado se derreter e fazer piadinha. Basta Luiz Inácio chegar para o clima ficar mais amistoso. Com essa manha, com essa malemolência, com esse jogo de cintura, Luiz Inácio está prontinho para virar secretário-geral da ONU. Espero que isso não ocorra por uma razão humanitária: FHC não suportaria. Não quero o mal de homem que prestou bons serviços ao Brasil. Luiz Inácio que fique, no máximo, com a OEA. Que loucura!
JUREMIR MACHADO DA SILVA correio@correiodopovo.com.br
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